Certa vez tive um sonho estranho.
Estava num país qualquer experimental - esta é a palavra mais acertada que me ocorre para descrevê-lo - onde a ameaça de guerra era tácita e o inimigo absolutamente anónimo. Estávamos sozinhos. Só havia um lado, onde estava o 'Nós', e o 'Outro' era só o perigo que pairava no ar meio nebuloso e dava nós no fundo dos nossos estômagos.
Lembro-me que tínhamos todos idade para frequentar o ensino primário, também nós éramos um pouco experimentais e bizarros, órfãos e assustadiços. Lembro-me apenas de uma sala de aula servilmente claustrofóbica - o chão forrado por uma carpete castanha clara, na parede à nossa frente a projecção de um filme a preto-e-branco sem vestígio de humanidade. Ninguém sabia bem o que estava ali a fazer. Só o medo pairava sobre as cabeças de todos, inclusivé dos professores, que eram ligeiramente mais baixos que os próprios alunos e de longe mais temerosos.
Mas aquilo que realmente me impressionou foi um momento particular em que, ao sentir um ligeiro desconforto, baixei a cabeça e olhei para as minhas mãos. Na palma, em vez da pele tracejada pelas linhas habituais, um corte que a separava em duas partes iguais, qual janela, e deixava ver um conteúdo peturbador. No interior, pequenos véus feitos de uma matéria qualquer irreconhecível agitavam-se suavemente, como se de cortinas ao sabor do vento se tratassem, rodeadas por pequenas ramificações que faziam lembrar plantas e que cresciam cada vez mais, para depois se enredarem umas nas outras e desaparecerem de novo para o nada, de onde surgiam sempre outras tantas.
Estava num país qualquer experimental - esta é a palavra mais acertada que me ocorre para descrevê-lo - onde a ameaça de guerra era tácita e o inimigo absolutamente anónimo. Estávamos sozinhos. Só havia um lado, onde estava o 'Nós', e o 'Outro' era só o perigo que pairava no ar meio nebuloso e dava nós no fundo dos nossos estômagos.
Lembro-me que tínhamos todos idade para frequentar o ensino primário, também nós éramos um pouco experimentais e bizarros, órfãos e assustadiços. Lembro-me apenas de uma sala de aula servilmente claustrofóbica - o chão forrado por uma carpete castanha clara, na parede à nossa frente a projecção de um filme a preto-e-branco sem vestígio de humanidade. Ninguém sabia bem o que estava ali a fazer. Só o medo pairava sobre as cabeças de todos, inclusivé dos professores, que eram ligeiramente mais baixos que os próprios alunos e de longe mais temerosos.
Mas aquilo que realmente me impressionou foi um momento particular em que, ao sentir um ligeiro desconforto, baixei a cabeça e olhei para as minhas mãos. Na palma, em vez da pele tracejada pelas linhas habituais, um corte que a separava em duas partes iguais, qual janela, e deixava ver um conteúdo peturbador. No interior, pequenos véus feitos de uma matéria qualquer irreconhecível agitavam-se suavemente, como se de cortinas ao sabor do vento se tratassem, rodeadas por pequenas ramificações que faziam lembrar plantas e que cresciam cada vez mais, para depois se enredarem umas nas outras e desaparecerem de novo para o nada, de onde surgiam sempre outras tantas.
Toda essa ágil movimentação resultava numa dor que a atmosfera anestesiante potenciava, uma sensação de estrangulamento das veias e artérias, agora convertidas em ramos e folhagem.
Ao mesmo tempo, o fascínio que acompanhava o testemunho do espectáculo, tão belo e assustadoramente visceral. Se o funcionamentointerno da minha mão era puramente vegetal, talvez eu fosse, afinal, semelhante a uma planta.
De repente, e apesar da dor pesada que ainda persistia, senti-me a salvo de todos os perigos que pesavam sobre o meu jovem entendimento.
Naquele momento, foi quase como se até pudéssemos ser livres...
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