27.4.09

Quando o fim acontece, tu nunca estás lá. Estás sempre longe. Moras numa caixinha fechada, lado a lado com a minha, mas só te vejo de vez em quando, nos raros momentos em que ela permite transparência. Mas só a transparência da tua máscara, se for. Não saberás talvez as palavras certas, então não dizes nada - mas há os teus braços, firmos como uma rocha para além da qual se adivinha (pelo som) um riacho ou um oceano qualquer.

Quando percebo que me enganei, sinto-te a falta como a um erro que gostava de ter cometido. Passo a vida a mandar-te embora, continuo sem saber se quero que fiques e não faço ideia de onde estás. Quando te encontro pelo caminho, sinto-te o corpo separado do meu como se fosse invasão e digo sempre «não, 2 mais 2 não são necessariamente quatro». Não sei dizer que sim, e tu não fazes ideia de quem eu sou. Passo o tempo a enganar-te, porque não te sei responder a essa pergunta.

Quando está frio e às vezes quando chove, eu corro para casa. Chego, sento-me na cama e espero que o que é permeável ignore as gotas de chuva. Deixo que o cansaço me assente bem, para que o sono pareça sagrado. Imagino que a tua caixa se abre e tu existes no meu mundo, estás sentado à minha frente e olhas para mim como se soubesses exactamente o que estás a ver.

Quando agarras na minha mão, eu ouço o rio a correr
e não tem mal que a vida desague inevitavelmente na morte. A ortografia é pouquíssimo importante, os soldados britânicos têm comichão no queixo e o vento a assobiar por entre as folhas das árvores faz-nos sentir eternos.
Mas tu nunca estás lá.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, gostei.

A.

D@s Pl3ktrüm-/v\ädch3n disse...

A quem devo agradecer? ;)