18.11.05

Sabes como é? Quando tens muito para dizer e nem sabes por onde começar? Quando as tuas palavras, não as reconheces como tal? Quando elas dizem tudo menos o que queres que elas digam? Quando te falha a vontade de as fazer obedecer a qualquer coisa que te é igualmente estranha mas que te mostra a ti mesma como te queres ver... ainda que não saibas que queres, ou o que queres, ou que não queres nada?! Às vezes não te apetece rasgá-las, trancá-las fora de ti, deixar de senti-las ou a quaisquer outras, ainda que sintas apenas a estranheza de não ver nelas...? Há alguma coisa para ver? São só palavras. Escreve-as. Apaga-as. Para que as escreves se as queres apagar?

Já nem o escrever sinto. Não é meu. E o que dá vida às
minhas palavras, a ponte que desfaz o abismo que nos
separa...? Pequenos quadrados de plástico... sem cor,
sem toque, sem vida... pequenos pedaços de um nada que nem nada é... até o nada tem vida, até o nada...
Triste ponte feita de menos de nada é quem carrega as minhas palavras e
as torna aquilo que elas são...
e assim deixam elas de ser quem eu sou. Seja eu quem for.
Mas fazes-me falta, sabes? Contemplar-te na tua indiferença, ser perturbada pelo ruído do teu silêncio.
Não, não me importo.
Passo o tempo á espera do momento em que deixas de morar em mim
e vens morar comigo neste esboço ingénuo de mundo...
Mas dói o teu silêncio. Ou o vazio das poucas palavras que te ouço...
Porque sei que são tão tuas como
minhas as que estranho...
Se assim é, deixa antes o teu silêncio dar-me a mão... faz-me mais companhia que os diálogos ensurdecedores da multidão...
E quando não estás... sinto-te mais que ao próprio corpo que trago cosido
à alma que o rejeita...
Rebento os pontos...
Rasgo a pele.
Nada me importa.
Mas vivo de tudo.
Vivo do teu silêncio, que é tudo o que me dás. Os gritos que me afligem no leve sussurrar dos teus olhos...
Queres salvar a minha alma?
Deixa-me salvar a tua...
"De aqui a pouco acaba o dia.
Não fiz nada.
Também que coisa é que faria?
Fosse o que fosse,
estava errada.
De aqui a pouco a noite vem.
Chega em vão
Para quem como eu só tem para o contar o coração.
Após a noite,
a irmos dormir
Torna o dia.
Nada farei senão sentir.
Também que coisa é que faria?"