8.12.05

Tu vives no passado...

E tu vives no futuro!
(
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Fair enough...

7.12.05

Eu. Eu vi. Eu vi-te. A ti, que não és eu. Eu vi-te. Caminhavas calma e distraidamente para ti mesmo, para o teu mundo. Esse mundo donde costumavas contemplar disfarçadamente o meu, como se nele o teu reconhecesses. Por momentos. Para sempre. E o tempo não existia durante aqueles breves momentos... Os breves momentos em que o teu mundo aterrava no meu, pousava na frágil pista de aterragem, quebrava o teu tapete mágico, para que não pudesses voltar a partir. Nunca mais.
E houve nunca mais. O nunca mais que eu nunca mais queria, mas nunca mais deixa de se atravessar no meu caminho, desde que nunca mais me lembro. Não sei onde pousas os teus olhos. Não sei onde se aloja o teu mundo agora. Pensava que era tua mãe a minha imaginação. Julguei ter-te inventado sem perceber. Mas existes. Não sei se preferia ter-te só no meu mundo e nunca num outro... se me contento c0m o simples facto de existires... em todo o lado... bem longe do canto onde me sento e contemplo tudo menos o remoto horizonte de um sorriso. De um sorriso inspirado por mais que a teimosia insistente em não derramar uma única lágrima...
Por algo mais que o aborrecimento de não existir nada melhor para fazer...

Eu.
Eu vi.
Eu vi-te.
Tu não olhaste... ver?! o que é isso?
Acabo por fazer sempre a mesma coisa.
Abro a janela e deixo escapar os pensamentos, em forma de palavras.
E acabo sempre a falar das palavras, e dos pensamentos, numa meta-linguagem interminável que circula à minha volta e consome o que não quero guardar, mas não consigo abandonar...


Tentas compreender.
Eu agradeço silenciosamente o teu esforço,
mas não me surpreendo com o teu inevitável fracasso.
Vejo nele todos os meus.
Reconheço o caminho que conduz incontornavelmente a lugar nenhum...

a uma ideia...
a outras tantas...
enquanto a verdade troça presunçosamente da minha incapacidade de a alcançar.


Que importa alcançá-la? Importa sequer tentar? Importa alguma coisa?

Nem sei de que cor pintar as mentiras que conto aos olhos que as vislumbram em verdade, que as forçam a ser algo que não são, porque o que é não chega.
Queria pintá-las de nada, queria pintá-las de tudo.

Queria encontrar qualquer cor que fizesse sentido, que lhes desse sentido, o sentido que elas não podem nunca ter... se não para mim, para ti?!

Apago-as outra vez.
Como faço sempre.
Escrevo-as outra vez.
Como é costume.
Não digo nada do que quero dizer.
E novamente não consigo ser quem sou, mas não sei ser outra coisa.

Não suporto as minhas palavras.
Não suporto não ter outras.

Porque tentas tu compreender o que eu não consigo?
Perguntas-me se tens razão, mas eu não sei...
Perguntas-me se é verdade, mas eu não te posso dar algo que não é meu... que não conheço.
E não posso conhecer a verdade. E não quero.

Como é doce a ignorância...
quão amarga a rapidez com que o pretenso conhecimento nos invade.

Dir-te-ia para me deixares em paz, se soubesse o que a paz é...

Dir-te-ia a verdade, se soubesse qual ela é...

Não sei.
Conto-te as mentiras que o mundo me desperta, com que a imaginação se delicia e a tristeza abranda...
Por vezes... acelera!
A pulsação corre veloz e imparável!
Estarei perto da verdade?! Terá, finalmente, chegado a hora?!

Ah, és tu mentira... confundi-te por momentos com... deixa lá... não importa...

Se eu soubesse...

Se eu quisesse saber...

Se ao menos eu desejasse que tu descobrisses...


Ou podias tu descobrir em vez de mim... e depois contar-me!

Tenho saudades de ouvir histórias antes de adormecer...

de ouvir o bater de um outro coração,
de sentir um respirar dissonante do meu...
de alguém a fazer festas no meu cabelo...
a apagar o cheiro que ele tem a sonhos desfeitos...
(e não a shampoo de pêssego!)
a lembrar-me os que consegui alcançar...
a encorajar-me a lutar pelos que me falta ainda coleccionar...

Tenho saudades de conhecer uma vida qualquer além da que carrego comigo...

Ouvir de perto outros pensamentos, menos barulhentos que os meus... menos silenciosos que os da multidão...

Canta para mim

Fala-me dos teus sonhos

Pergunta-me pelos meus para que eu te diga que não interessam
(para me convencer de mais uma mentira)

Canta comigo

uma canção sem melodia,
sem letra, sem percurssão...

feita de ti e de mim,

do simples bater do coração.