29.10.05

Hoje...

Hoje é um daqueles dias...

Um daqueles momentos em que os pensamentos não conseguem deixar de ser aquilo que são...


Sussurram suave mas sempre implacavelmente um "desculpa"...

e continuam a sua dança sobre sonolentas pontas de pés...


Fingem não querer incomodar-me...

mas adormecem por segundos... e caem redondos no chão...

A cada passo que dão

Estes pensamentos meus...


Estendo-lhes a mão, nunca o coração,

Que o coração não o estendo a ninguém

Dou-o inteiro para o mal e para o bem... e para o mal e para o bem não o recebo de volta.


Ergo-os do chão,

estes pensamentos que em vão tento adormecer ao meu lado...

Peço-lhes que me deixem descansar, que me deixem não pensar

Por um segundo que seja...


"Não! Queremos dançar!..."

Dizem enquanto rodopiam pelo ar

E aterram pesadamente no palco da consciência

Tão cansada de cantar

A melancólica melodia que, ao amar,

Deseja nada mais que o cessar da existência

Destes pensamentos que são meus...


Abandona-me agora...

como tudo o resto não demora...

Deixa o silêncio entrar, sem bater à porta...

Deixa-o aconchegar o sono da alma morta de tanto viver...


Mas logo um sopro de vida a alenta

Ela que de vida é sedenta,

Ela que em mim é razão...

E que ao dormir me aconchega nos braços

Apaga os tempos e os espaços...

Pois a música que me embalar

Quando o meu descanso chegar

Será nada mais que o bater do coração...

Do coração que em mim trago, do coração que sempre carrego...


Até ao fim...


Enquanto houver vida em mim.

22.10.05

Oh, mas porque é que escreves?

Tens alguma ideia de uma coisa melhor para fazer?

Tenho. Por acaso tenho várias! Que tal... olhar para o tecto? Ou perder horas de consciência em frente à televisão? Não viste aquela reportagem sobre a "geração media"? Pois bem... fazes parte dela! Apropria-te dos teus direitos e não te dês ao trabalho de pensar... Já ninguém faz isso. Porque é que tu hás-de fazer?

Porque prefiro ser ninguém a ser toda a gente.

Siim, claro. Tens sempre que ser especial...

Eu sou especial. Toda a gente é... por isso, porquê tentarmos ser todos iguais? Ainda não percebemos que é impossível?

Não só não é impossível, como é provável... como diz o stor de Semiótica "Neste mundo, abunda a carneirada"... quem não segue o rebanho é uma ovelha perdida... e que piada tem estar perdido?

E achas que assim nos encontramos uns aos outros? Ou a nós
próprios?

Não, não! Essas tretas filosóficas outra vez não, por favor... não há paciência...

Talvez seja esse o problema. Nunca há paciência para nada.
Dá tudo muito trabalho... é tudo demasiado incómodo.
Pensar. Lutar. Sentir. Viver.
Demora tudo demasiado tempo, e nós nunca temos tempo...
E se abrandamos, corremos o risco de nos afastar do rebanho,
desse rebanho a que nos apegamos mais do que a nós mesmos,
do que à própria vida.

Vou-te explicar: se não estivéssemos apegados à vida, estaríamos mortos. Todo o apego que temos que lhe ter é só o necessário para que não nos fuja das mãos!

Mas isso não é vida! Isso é sobrevivência! À sobrevivência
dedicam-se os animais, que só possuem capacidade para tal,
e mesmo eles vivem melhor do que nós! Não se trata de
sobreviver. Trata-se de viver além da sobrevivência!

Tens noção que quem quer que esteja a ler isto irá, ou desistir a meio, ou dar-te o número de um psiquiatra, certo? Isto não representa uma novidade para ti... pois não?

Oh, deixa-os recomendar-me todos os médicos e mais alguns...
Achas mesmo que isso me preocupa? Mal de mim se a minha
felicidade dependesse do que os outros acham que eu devo ou não
fazer... Mal de mim se me preocupasse se vão ou não ler todos
estes disparates! Apetece-me escrevê-los! Daqui a um minuto
posso revoltar-me contra as minhas próprias palavras, mas são
minhas, insanas ou lúcidas, poéticas ou objectivas, espontâneas ou
pensadas! Mas não, não as quero pensar...

Eñtão dás-me razão... não vale a pena pensar! Nem sentir, por essa ordem de ideias! Quanto mais pensas mais te apercebes de que nada faz sentido, quanto mais sentes mais o teu coração se cansa e consome... mais te doem as horas, mais te entristece o dia, mais preferes estar a dormir que acordado, porque a consciência é afinal a grande maldição do homem... Oh, vai ver televisão!!...

Assusta-me mais poder um dia não sentir, que toda a dor que a
minha alma suporta carregar, e mais alguma! Pergunta-me se a
quero? Não a quero, pois! Quem quer a dor afinal?! Mas ela é tão
tua como a felicidade... mil vezes mais tua que esse rebanho que
persegues cegamente... estupidamente... só porque dói mais
pensar! Talvez em última instância nada faça sentido... mas até
o nada me preenche, quando só a mim tenho por companhia...
Ainda assim... prefiro estar sozinha a seguir a "carneirada"...

Houve alguém que me disse há pouco tempo, que escrevia muito,
que era demasiado subjectiva, que me perdia no raciocínio... mas não
perco... peço desculpa se a ti, que lês as minhas palavras, não posso
levar comigo a percorrer a imensidão tão minha dos pensamentos
que me inundam... mas deixar de ser eu, para que me percebas?
Não, isso não posso fazer... e não posso porque não quero. Quero ser
eu... não por falta d paciência para ser outra coisa, mas por ter
demasiado amor ao que não pode ser de outra maneira.
Ver televisão?! Para quê?! A minha vida é um filme... (sem a
publicidade chata)